Pelos corredores de um alto prédio em Copacabana, ecoam-se os gritos de
uma senhora do vigésimo andar. Lá do alto, de uma abafado apartamento, a
senhora briga com o marido, com a filha e com ela mesma. Os gritos,
porém, ultrapassam as paredes e os andares; os gritos chegam também em onda
gigantescas para seus vizinhos menos inquietos. Este apartamento escuro e
muito pequeno, que não tem qualquer mínimo luxo ou glamour da cidade
maravilhosa, esconde essas três pessoas: uma senhora rabugenta, um
senhor cujo rosto nunca vi e a filha de meia idade e meia impertinência.
A senhora, baixinha de cabelo meio pintado, meio grisalho, traz consigo um mau humor para a vida. O rosto é fechado para família, que bem desconheço e, infelizmente, não é diferente para seus vizinhos, para os doces porteiros do prédio e para qualquer desconhecido. Parece que a infelicidade invadiu àquele apartamento e a senhora junto a filha, que encontro vez ou outra, não esconde de ninguém. Dentro deste apartamento há vidas despedaçadas, amargas e duras, e que não fazem nenhuma questão da doçura.
Os gritos amargos desta senhora e a meia falta de doçura da sua filha contamina a vida de qualquer um que por acaso esbarre com elas. São tristes, não respondem, não sorriem e gritam. Não escondem a ignorância, a brutalidade e a tristeza que penetrou um dia àquele pequeno quarto-sala, desses que preenchem muitos corredores da zona sul carioca por um preço muito alto pelo mínimo quadrado, e nunca mais saiu. O senhor, de quem pouco falei, é pequeno demais na história - não por minha vontade, mas porque parece pequeno demais para elas.
Dessa meia doçura, meia impertinência, meia felicidade se contentam muitas pessoas que disfarçam a tristeza fora de casa. Os risos dessa gente triste nasce ao atravessar a calçada, mas se esconde logo que a vê noutra esquina. Não é o caso dessa família, que já não pretende aparentar felicidade nem para seus vizinhos do mesmo andar.
A senhora, baixinha de cabelo meio pintado, meio grisalho, traz consigo um mau humor para a vida. O rosto é fechado para família, que bem desconheço e, infelizmente, não é diferente para seus vizinhos, para os doces porteiros do prédio e para qualquer desconhecido. Parece que a infelicidade invadiu àquele apartamento e a senhora junto a filha, que encontro vez ou outra, não esconde de ninguém. Dentro deste apartamento há vidas despedaçadas, amargas e duras, e que não fazem nenhuma questão da doçura.
Os gritos amargos desta senhora e a meia falta de doçura da sua filha contamina a vida de qualquer um que por acaso esbarre com elas. São tristes, não respondem, não sorriem e gritam. Não escondem a ignorância, a brutalidade e a tristeza que penetrou um dia àquele pequeno quarto-sala, desses que preenchem muitos corredores da zona sul carioca por um preço muito alto pelo mínimo quadrado, e nunca mais saiu. O senhor, de quem pouco falei, é pequeno demais na história - não por minha vontade, mas porque parece pequeno demais para elas.
Dessa meia doçura, meia impertinência, meia felicidade se contentam muitas pessoas que disfarçam a tristeza fora de casa. Os risos dessa gente triste nasce ao atravessar a calçada, mas se esconde logo que a vê noutra esquina. Não é o caso dessa família, que já não pretende aparentar felicidade nem para seus vizinhos do mesmo andar.
Bianca Garcia
Oi,Bianca!
ResponderExcluirNotei certa influência clariceana em suas palavras.Assim que li "Meia vidinha" , me lembrei do livro de crônicas A Descoberta do mundo, em um dos textos, Clarice fala que a angústia para alguns é uma palavra pronunciada com orgulho, é a não esperança na esperança,é o não confessar nem a si mesmo e o desamparo em estar vivo.
Enfim, seu texto me remeteu a essa ideia de enclasuramento , situação que nos priva de experimentar por completo a vida.
Abraços,
Islayne
Islayne, recebo isso como um elogio, hein!
ExcluirEscrever um texto e fazer com que o leitor se lembre de Clarice Lispector é, no mínimo, surpreendente pra mim.
Grande beijo :)