terça-feira, 31 de julho de 2012

Olhávamos o céu

Com  meus olhares apreendidos pelas estrelas celetiais, tu me perguntava sobre elas. Sobre o céu e as estrelas tu me dizia. Me dizia sobre besteiras e qualquer outra coisa, que certamente eu nem prestara atenção. Não sei bem, mas parece que, no mundo, só tinha restado a gente. Brilhosas, as estrelas piscavam sem parar. Não precisava, talvez, de mais ninguém comigo e contigo. As estrelas preenchiam qualquer vazio.

Na imensidão daquele céu azul escuro, elas eram tão intensas que parecia não restar espaço nem para mais uma. Embaixo, naquela grama úmida da noite, estávamos nós com os joelhos mais próximos delas que nossos corpos. Lá estavam elas e logo abaixo estávamos nós. Nos vimos sorrindo. O céu estava lindo e quanto mais sorríamos, mais bonito ficava. Parece até que o céu reflete felicidade...

Prendendo nossos pensamentos, as estrelas brincavam de intensidade. O jogo funcionava como o nosso, quanto maior o brilho, maior o destaque. A gente brilha com amor, com o sorriso, a gente brilha com bondade. As estrelas que mais brilham, diziam meus pais quando eu nada entendia da vida, são as pessoas especiais que já estão no céu. E não seria isso amor, sorriso e bondade?

As estrelas olhavam o amor. Enquanto isso, tínhamos nossos corpos estendidos na grama, nossas cabeças apoiadas em nossos braços e o brilho do céu nos olhando. Não havia cidade. Não havia gente. Havíamos nós... Não existiam gritos, nem choro, nem saudade. Não tínhamos vozes... Ficamos ali, pairados, sob luzes que preenchem quaisquer vazio.

E o céu tem dessas coisas misteriosas, assim, lindas, que dão medo.

Bianca Garcia

quarta-feira, 25 de julho de 2012

O sol, a mulher, o tiro


O sol, que há pouco fugira, apareceu nesse dia de inverno. E cá estava eu, em mais uma espera por transportes coletivos na cidade...

Enquanto eu me preocupara com os papéis em cima da mesa, os e-mails, as entrevistas e meus horários, a mulher que estava ao meu lado, também com a testa franzida, se preocupava com seu bairro, sua casa e o horário. Éramos duas estranhas inquietas com a demora do ônibus, que por sinal era o mesmo que iríamos pegar. Cá trazia a vida mais desconhecidos para minhas histórias...

O relógio, que batia catorze horas quando nos encontramos, ganhara muito rapidamente trinta minutos. 

Enquanto eu me apressara para olhar a hora e olhar o horizonte em busca do ônibus, a mulher se mexia de um lado para o outro. Nada muito exagerado, nada que qualquer pressa deixasse percebê-la. Mas nossas inquietações nos aproximaram quando ela disse que o ônibus não chegava. E com as circunstâncias, eu não pude discordar. Os minutos se passavam, mas nunca nossas inquietações...

Com mais alguns passos de um lado para o outro, ela voltou a dizer sobre a demora do ônibus. E com toda a pressa que eu estava, continuei o assunto sobre esses atrasos, sobre a quantidade dos carros, enfim, sobre essas coisas que as pessoas conversam em filas - mas não estávamos em uma. Era uma conversa fora de moda, que todo mundo odeia, mas sempre troca algumas palavras sobre.

Apreensiva ela contou o motivo de toda sua pressa: 

- Preciso ir para casa, meu marido já me ligou e disse que o tiroteio começou cedo.

Calei imediatamente meus pensamentos pequeno-burgueses... E perguntei:

- Não é perigoso ir agora, então? 
Obviamente ela respondeu que sim.
- É perigoso mas acabou de começar. Meu marido ligou e disse para que eu saísse do trabalho no mesmo instante.
Continuou ela:
- Se eu não for agora, eles podem fechar a rua e eu não consigo entrar em casa.

Nos calamos até que eu voltasse a perguntar.

- É todo dia assim?
- Toda semana. Mas ontem à noite também teve. 
Continuou ela:
- Mas eu não moro na favela. Se eu morasse já tinha saído de lá.
- É perto?
- Mais ou menos. Tem uma favela de um lado e outra de outro e eu moro perto das duas. Mas não moro nelas.
- Eles fecham, então, a principal rua que dá na sua casa, né?
- E aí eu não consigo entrar... Mas se eu morasse na favela, eu já tinha saído de lá...

Lembrando sempre que ela não mora em "comunidade", ela disse ainda sobre o incômodo dos barulhos: tiros, helicópteros, gritos, tiros, gritos, helicópteros...

- Quando tem helicóptero, passa em cima de casa e eu não consigo ficar sossegada. É um barulho muito alto, que fica um tempão...
- Mas mesmo com você que não mora na favela, eles mexem?
- Não, ninguém mexe com ninguém. Mas quando tem essas coisas, eles fecham o comércio.
- Então você nunca nem viu?
- Não, eu nunca vi. Mas uma vez meu marido estava de um lado e os bandidos do outro atirando. Meu marido viu tudo e um dos tiros chegou a atravessar a janela de um ônibus que passava na rua.
Continuou ela:
- Quando tem confusão sobra para qualquer um...
- Se eu morasse na favela... Mas até que essa é pacificada...

Chegou o ônibus... E não tinha lugar para sentarmos juntas. Despedi-me, então, silenciosamente e desejei "boa sorte" à essa mulher - mais uma de outra realidade, pra gente, distante.

Bianca Garcia

domingo, 22 de julho de 2012

Pobreza, tristeza, beleza


A pobreza no Rio de Janeiro se disfarça em cada esquina movimentada. Nela, disfarçam-se as bocas de fumo, os moradores de rua, as favelas com tráfico, os prédios em pedaços, as calçadas quebradas, o trânsito parado, a sujeira da cidade. Se disfarça ali, em cada pedaço, a tristeza em meio a riqueza que vende a tal da publicidade. 

A tristeza se disfarça entre os gritos, as festas, as altas gargalhadas. Se disfarça nos grandes carros estacionados e nos velhos casais que só o são fora de casa. A tristeza se disfarça com o passado. Se dirfarça nos presentes e nas fotografias. Se disfarça ali, em cada sorriso distante da casa.

A beleza do Rio de Janeiro se concentra em cenários estatizados. Tem o samba, o carioca, o Leblon, o calçadão, o Cristo, o Arpoador... Tem o Pão de Açúcar! A Lapa! O chop de sexta! A beleza da cidade se disfarça ali, em cada estátua divulgada. A beleza do Rio de Janeiro está em cada esteriótipo da cidade.

Bianca Garcia

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Sorteios

Deu a louca no blog!

Mais uma novidade: para ampliar a chance dos participantes, serão sorteados dois livros, 
 A Distância Entre Nós e A Cidade do Sol, escolhidos pelos leitores na fanpage.*


A Cidade do Sol (Editora Nova Fronteira) e A Distância Entre Nós (Editora Agir, selo da Nova Fronteira)

Quem pode participar? Qualquer pessoa, de qualquer estado.
Como participo do sorteio? Comentando neste post (nome, sobrenome e e-mail).
Como vai ser entregue o livro? Ou pessoalmente, ou correio.
Até quando posso comentar? Até domingo, 22 de julho*, dia do sorteio.
Onde vai sair o resultado? Na fanpage.

Não deixe de curtir a página do blog no Facebook. Lá você fica sabendo dos sorteios, pode escolher os livros a serem sorteados, lê algumas novidades e pensamentos expostos no blog e muitas outras coisas. Vai lá! 

Gostaram? 
Então não esqueçam de comentar, deixando nome e sobrenome e e-mail.

Observações: 
- Serão sorteadas duas pessoas diferentes.*
- A brincadeira é feita por um programa automático que faz o sorteio pelo número de comentários.

Boa sorte à todos!
Bjs,
Bianca Garcia


* Editada em 19/07/12

terça-feira, 10 de julho de 2012

Meia vidinha

Pelos corredores de um alto prédio em Copacabana, ecoam-se os gritos de uma senhora do vigésimo andar. Lá do alto, de uma abafado apartamento, a senhora briga com o marido, com a filha e com ela mesma. Os gritos, porém, ultrapassam as paredes e os andares; os gritos chegam também em onda gigantescas para seus vizinhos menos inquietos. Este apartamento escuro e muito pequeno, que não tem qualquer mínimo luxo ou glamour da cidade maravilhosa, esconde essas três pessoas: uma senhora rabugenta, um senhor cujo rosto nunca vi e a filha de meia idade e meia impertinência.

A senhora, baixinha de cabelo meio pintado, meio grisalho, traz consigo um mau humor para a vida. O rosto é fechado para família, que bem desconheço e, infelizmente, não é diferente para seus vizinhos, para os doces porteiros do prédio e para qualquer desconhecido. Parece que a infelicidade invadiu àquele apartamento e a senhora junto a filha, que encontro vez ou outra, não esconde de ninguém. Dentro deste apartamento há vidas despedaçadas, amargas e duras, e que não fazem nenhuma questão da doçura.

Os gritos amargos desta senhora e a meia falta de doçura da sua filha contamina a vida de qualquer um que por acaso esbarre com elas. São tristes, não respondem, não sorriem e gritam. Não escondem a ignorância, a brutalidade e a tristeza que penetrou um dia àquele pequeno quarto-sala, desses que preenchem muitos corredores da zona sul carioca por um preço muito alto pelo mínimo quadrado, e nunca mais saiu. O senhor, de quem pouco falei, é pequeno demais na história - não por minha vontade, mas porque parece pequeno demais para elas.

Dessa meia doçura, meia impertinência, meia felicidade se contentam muitas pessoas que disfarçam a tristeza fora de casa. Os risos dessa gente triste nasce ao atravessar a calçada, mas se esconde logo que a vê noutra esquina. Não é o caso dessa família, que já não pretende aparentar felicidade nem para seus vizinhos do mesmo andar.

Bianca Garcia

domingo, 1 de julho de 2012

Sorteio: Quando Nietzche Chorou



Os dois primeiros sorteios foram um sucesso e chegamos ao terceiro. Dessa vez vai ser diferente. Vamos tentar? Ao invés do sorteio acontecer pelos comentários do blog, o sorteio vai acontecer pelos comentários da fanpage
Para ganhar o  livro "Quando Nietzche Chorou", basta comentar na publicação do sorteio lá na página do FacebookNo comentário deve constar, obrigatoriamente, o e-mail.


Quem pode participar? Qualquer pessoa que curtiu a página.
Como vai ser entregue o livro? Ou pessoalmente, ou correio.
Até quando posso comentar? Até três dias depois da publicação.
Onde vai sair o resultado? Por um comentário aqui e pela fanpage.


Além deste sorteio, a página tem atualizações constantes do blog. São informações, postagens, pensamentos e novidades ;)

Gostaram? Então não esqueçam de curtir a fan e comentar na publicação do sorteio.


Observações:
- Os comentários neste post não serão validados.

- A brincadeira é feita por um programa automático que faz o sorteio pelo número de comentários.

Boa sorte à todos!

Grande beijo, 
Bianca Garcia