domingo, 1 de abril de 2012

Um sonho real

Estava bem distante. O som era baixo, e só com muita concentração se ouvia. Agora, mais próximo. O som se aproximara rapidamente. As sirenes são sempre inquietantes. Em apenas alguns minutos elas perpassam no poço mais profundo da minha imaginação. Às vezes, confundimos o azul com o vermelho. Eu não sabia de qual era.

Nessa cidade barulhenta, onde os carros tomam velocidade, derrubam motos, pessoas e postes, pensei, friamente, ser mais um acidente. Inquietei-me junto às sirenes. O barulho não mais me permitira outro pensamento. Dostoiévski ficara de lado. Até com todas as janelas fechadas a cidade obriga que cada um aumente seu barulho, caso queira apenas o seu. Por mais que o barulho seja do mais profundo silêncio. 

Aproximou-se a sirene. Agora, ensurdecedora. Estava próxima. Muito próxima. Fui à janela. Nelas, estavam milhões de outras cabeças. 

Lá estava. Bem abaixo de mim estava um crime. Tola, não percebi. Vi sangue, gente, sirene. Era um crime, talvez, como um desses quaisquer. Era um crime social. Em meio às esquinas da alta classe, um movimento desigual. 

No chão, um homem. Os outros correram. As fugas parecem sempre mais fáceis. Correr e fechar os olhos parece nos afastar do perigo, ou do problema. Parece que os tornam menos árduos. Mas não. Correram os meninos sem camisa, correram os que tinham cordões largos, correram os que estavam de bicicleta, correram os que tinham celular pendurado na bermuda, correram os que estavam de tênis. 

Soaram as sirenes. As sirenes voltaram a cantar.

Em meio ao movimento desse bairro burguês, uma classe sem nome preenche as calçadas sob claros olhos que não os querem enxergar.

Acordei. Que sensação estranha. Fui à janela. Era apenas um sonho. Agora a cidade dormira. Parece que dormiu pra sempre. Um dia ela acorda.

Bianca Garcia

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