quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Lá do outro lado


Do lado de cá não tem morro com bondinho, nem morro com estátua. Não tem monumentos pelas ruas, nem estátua de artistas. Não tem cultura a céu aberto, nem visitantes circulando. Não tem praia na esquina, ou no quarteirão seguinte. Não tem prédio pra todo lado inibindo a nossa vista. Não tem calçadão bonito, nem jardins de muitas plantas. Não tem parques espalhados, nem museus de história viva. Não tem campos bem gramados para um futebol de quinta. Nem mesmo lagoas de água poluída... Mas tem gente que dá bom dia para gente desconhecida. 

Bianca Garcia

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O limite entre o jornalismo e a violência

Segundo o Insi (Instituto Internacional de Segurança da Imprensa), mais de 1.200 jornalistas morreram, nos últimos dez anos

No Brasil, dezenove jornalistas morreram exercendo sua profissão entre os anos de 1994 e 2011 – dentre eles estão Tim Lopes, em 2002, e Gelson Domingos da Silva, em novembro deste ano. Segundo a CPJ (Committee to Protect Journalists), esse número se refere apenas a mortes com motivos confirmados, quando uma investigação conclui que o profissional foi morto em represália direta por seu trabalho, seja em realização de uma tarefa de risco, como no caso de Tim Lopes, seja por fogo cruzado, como, agora, com Gelson Domingos.

A morte de Gelson Domingos, em novembro, levantou diversas indagações sobre o desempenho da atividade profissional jornalística em situações de risco. Como ficou evidente com a morte de Gelson, o colete à prova de balas usado pelos profissionais de imprensa não dá conta de disparos efetuados por fuzis e outras armas de guerra usadas pelos traficantes do Rio. Para o presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Maurício Azedo, este caso pode ser o gatilho para que as autoridades imponham limites na cobertura da imprensa em situações de risco.

Para o Coronel Frederico Caldas, coordenador de Comunicação Social da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, deve haver limites para a cobertura jornalística em situações de conflito. “Nós sabemos muito bem que essa palavra limite tem uma conotação preocupante para a mídia, mas é preciso que nós tenhamos limite, sim, especialmente quando tratamos da vida de pessoas. Nós não temos como controlar o trabalho da imprensa porque não nos cabe isso, o trabalho da imprensa é fundamental para informar o cidadão. Mas é o momento de refletir até que ponto vale à pena buscar a informação a qualquer custo”, afirma.


Intervenção da polícia em coberturas de risco


A luta travada entre as várias facções que dominam as favelas do Rio torna a cobertura jornalística um ato tão complexo e perigoso como os concebidos em áreas de guerra. Hoje, com a implementação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), há uma redução da atuação dos marginais nessas áreas, mas, mesmo assim, ainda ocorrem conflitos, e a imprensa deve estar presente para mostrar à sociedade a atuação do Estado nessas regiões, após anos de descaso e ausência.


Segundo Ricardo Boechat, âncora do Jornal do Band e da BandNews FM, a polícia deve intervir em coberturas jornalísticas. “Concordo que a margem de risco de jornalistas que cobrem conflitos é elevada. No caso do Rio de Janeiro, elevadíssima. Acho que a melhor palavra para dizer se o terreno está minado ou não, no momento da ação, é da autoridade policial”, alerta.

Por Bianca Garcia em O Estado RJ

Observação:
Esta matéria foi publicada no dia 07 de dezembro na Editoria Estado.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Contra a injustiça em defesa do Rio: política ou espetáculo?

Marcado pelo entretenimento, protesto no Rio tenta sensibilizar Dilma e o Congresso

No último dia 10, o centro do Rio esteve reservado a uma manifestação promovida pelo governador Sérgio Cabral (PMDB), cujo lema era “Caminhada Contra a Injustiça em Defesa do Rio”. Com o objetivo de protestar contra as novas regras de distribuição dos royalties do petróleo, em breve pronunciamento, Cabral afirmou que o Estado do Rio não vai ceder ao projeto de lei que, segundo ele, prejudicaria o Estado.  “Nós não vamos ceder um real sequer do que já foi licitado por respeito ao diálogo e à democracia. O Rio é um estado essencialmente democrático, mas não vamos aceitar que avancem sobre receitas garantidas ao nosso povo”, garantiu Sérgio Cabral aos manifestantes.

O ato público contou com uma elaborada preparação. Dias antes do acontecimento, Sérgio Cabral afirmou que esperava a presença de cerca de 100 mil manifestantes para sensibilizar a presidenta Dilma Rousseff e o Congresso Nacional. Cabral promoveu uma coletiva de imprensa para convocar a população, decretou ponto facultativo – medida também tomada pelo prefeito Eduardo Paes -, espalhou faixas pela cidade e liberou meios de transporte para as pessoas irem à manifestação (ônibus pagos para as pessoas de Macaé e Campos e passagem gratuita nos horários de ida e volta para todos os moradores do Rio nos períodos de 13h às 15h – início da manifestação - e 20h às 22h – fim dos shows).


Apesar do apelo e da urgência da questão enfatizada pelo governador do Rio, nem todos os cariocas estavam de acordo com as justificativas apontadas para a realização do evento. Segundo o professor universitário Fábio Candido, a manifestação indicou “o desespero de um governo que teme perder uma receita importante para a manutenção de um certo projeto político, não necessariamente compatível com o bem estar do povo ao qual deveria se destinar”.


Para o humorista Anderson Gago, “o governo está usando o povo mais uma vez como massa de manobra, porque as pessoas não estão cientes do que realmente está acontecendo. Muita gente nem sabe o que são os royalties e acha que é uma marca de gelatina. Ao passar pela manifestação, vi um trio elétrico tocando Katy Perry, parecia mais uma parada gay do que uma manifestação séria em prol dos royalties do petróleo”.

Ao que parece, a “Caminhada Contra a Injustiça em Defesa do Rio” se tornou uma questão de números e de manipulação de uma imagem política. Com direito às mais variadas formas de espetáculo: trio elétrico, animador de plateia e shows com cantores e grupos populares. Também estiveram presentes no evento personalidades políticas e celebridades televisivas.


As manifestações têm pesos diferentes

O evento ocorrido na Cinelândia mostrou que a praça, outrora palco de grandes manifestações políticas, estava partida. De um lado, os manifestantes do “Ocupa Rio”, cuja visibilidade foi ignorada. Do outro, os participantes da “Caminhada Contra a Injustiça em Defesa do Rio”, que demonstravam estar radiantes ao som de bandas e cantores populares. Mas a “Caminhada” evidenciou, acima de tudo, o interesse do Governo do Estado em manter investimentos no Rio, mesmo que para isso tenha tido que decretar ponto facultivo para o funcionalismo público e realizar toda sorte de ações para chamar a atenção da população e da imprensa.

Por Bianca Garcia em O Estado RJ


Observação:
Esta matéria foi publicada no dia 12 de novembro na Editoria Estado.