sábado, 21 de maio de 2011

O retrato de um transporte coletivo que muitos desconhecem

 
                                                Uma espera apreensiva - Central do Brasil

As cenas já se repetiram na tevê quanto à péssima qualidade do transporte coletivo, principalmente para a baixada fluminense e para a zona oeste da cidade do Rio – mas, claro, a zona oeste não inclui a Barra da Tijuca, aliás, se pudessem trocá-la de zona... É, infelizmente o jornalismo perdeu seu maior sentido: denunciar as mazelas sociais através da informação.
Nunca acreditei no disparate de que a violência adiantaria alguma coisa. Mas entendo a raiva, que sente uma massa, para se juntar e quebrar um trem, atear fogo e coisas do gênero as quais já tomamos conhecimento. Podem pensar, vocês leitores, que estou defendendo a atitude, no entanto, não defendo. Mas entendo. Imagine todos os dias as mesmas coisas? No caso do trem, superlotação, portas que não funcionam, calor, paradas repentinas ao léu. Já o ônibus, superlotação, calor - ou no caso de ônibus com ar, defeitos, brigas. Ah! Nessa opção não se pode esquecer, é claro, que tudo isso depende de uma coisa: o motorista parar quando você faz sinal.  Sim, ainda tem como você não conseguir pegar seu ônibus porque ele não para pra você.
Com tantas coisas para falar essa semana, escolhi a deficiência no transporte carioca. Mas em um espaço ínfimo ao que ela deveria ter, parabenizo a professora Amanda Gurgel, que em um desabafo claro e sucinto manifestou a indignação da classe dos professores. A dizer, tinha também o caso de cerca de 50 carros modelo Jetta comprados para os nossos digníssimos vereadores. E, ainda, a transformação do MEC em uma piada com sua ‘mais nova declaração’. Contudo, o espaço dado à professora foi preenchido com muita competência. Coisas que os políticos não fazem ao falar de transporte coletivo. E junto deles pessoas que não vivem essa realidade. A zona sul, por exemplo, é interligada e ônibus é o que não falta nessa parte da cidade, inclusive nas mais variadas horas.

Até quando vamos fechar os olhos para o problema? Ou deixá-los que fechem os olhos para nós?

"Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros." Ernesto Guevara


Uma carioca apaixonada pela cidade, Bianca Garcia

sábado, 14 de maio de 2011

Apoio aos bombeiros do Rio



"e por falar nisso...
bem, é melhor não falar nisso

quem sabe não vou deixar puto
alguém com influência no governo?
com amigos na polícia?

eu é que não vou
cair nessa conversa
de que todos são iguais perante a lei"
Nicolas Behr


Protestos são feitos a fim de reivindicar uma situação. E, muito certamente, a vez agora é dos militares cariocas. Padronizadamente, a resposta do governo é sempre a mesma, respondem de aumentos salariais anteriores e futuros. A história é a mesma: dentro dos futuros quatro anos todos os problemas serão resolvidos, inclusive os aumentos. Nós, obviamente, não acreditamos nessa mentira exposta pelo governo. Afinal, é rotineiramente que eles vangloriam os míseros aumentos, e prometem melhoras dentro de seus mandados.
E para não deixar crescer um movimento que vinha, essa semana, sendo insistido pelos bombeiros e por outros membros de corporações militares no centro da cidade maravilhosa dos cartões postais, resolveram abafar com a prisão dos líderes do protesto. Ahn? Atitude ditadorial? Engraçado como a mídia não fala muito sobre. A página principal da globo.com não menciona. Para sabermos do desenrolar do protesto, das novidades e das consequências temos que procurar no Google. E nele podemos encontrar O DIA e o R7 retratando o assunto e algumas outras pequenas notícias espalhadas por aí, mas nada que preencha toda a primeira página de busca (claro que me refiro às notícias dos protestos que aconteceram nessa semana, porque a página fica cheia quando se trata de protestos anteriores – não é a primeira vez que insistem nesse pedido). Será que compraram a mídia? Percebemos todos, ou deveríamos perceber, que mídia e política andam juntas hoje, e pensá-las separadamente é quase uma atividade impossível. Mas seu verdadeiro papel era se isentar de qualquer lado. Está aí algo que quando acontecer estaremos verdadeiramente com uma imprensa livre e numa democracia formal.
O governo veio a criticar a atitude dos bombeiros dizendo que estavam colocando a vida da população em risco, pois eles abandonaram os postos nas praias. Com razão, eles não pedem mais que condições de trabalho e reconhecimento por ele. Deveríamos nos conscientizar da importância de bombeiros e policiais militares no cotidiano da nossa vida.  Já pensou um dia sem eles? Já pensou no caos que entraríamos? A desordem tomaria conta da vida social. Sabendo da importância de seus trabalhos por que, então, ocultam esse reconhecimento? E lá no século XVII já se pronunciava Thomas Hobbes quanto ao caos promovido pelo homem, que muito bem definiu, nas sociedades primitivas, “era o lobo do próprio homem”. Ainda é. E olha que dizem por aí sobre evolução. Pois bem, quem tenta controlar essa guerra do homem contra ele mesmo são os policiais e os bombeiros. 

A causa pela qual os militares lutam é justa. A atitude do governo que não é.


Bianca Garcia

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Brincando com um trecho de Julio Verne

“Durante uma hora ponderei no meu cérebro em delírio todas as razões que teriam podido fazer agir o tranqüilo caçador. As mais absurdas idéias se emaranhavam em minha cabeça. Julguei que ia ficar louco.” Julio Verne – Viagem ao Centro da Terra

Olhando daqui de cima consigo perceber os vastos tipos de gente. Não refiro-me a cor e raça, pois nesse quesito o ser humano é um só, nada fisicamente o difere do outro. Também não é isso que um caçador busca. Quando se fala em caçador, facilmente nossa memória repuxa um homem com ferramentas e uma grande arma dentro de uma floresta em busca de animais. Mas não é esse caçador que estou observando. Ele é um caçador de gente. E este busca com os olhos mais límpidos o que difere com tanta eficácia os seres humanos. E por manter limpo os olhos consegue vê-las sem tornar-se perigoso. Seu olhar não intimida, aliás, quase nem é percebido. Está tranquilo.
Estou agora neste segundo andar do prédio observando os grupos que passam lá embaixo. São vários. De homens, de mulheres e de ambos os sexos. Há também as pessoas que estão sozinhas, ou, talvez, mais bem acompanhadas. No jeito de falar, de agir, de se mexer, de andar diferenciam-se umas das outras. E a aproximação dos que formam esses grupos ou não formam nenhum depende diretamente desses modelos. O fato de nos homogeneizarmos nesse pote que chamamos de mundo ou de nos distanciarmos dele é que nos traz questionamentos cujo respondê-los nos promove delírios, mas positivá-los depende de você que os analisam.
O caçador atenciosamente observa as pessoas. Seu olhar é instigante. E agora eu estou a observar o caçador. Percebo, através de seus olhos bem abertos e brilhantes, sua caça. Passo, então, a analisá-lo quanto à ela. Calado, sozinho e tranquilo ele encontra o que buscara.
As mais absurdas ideias se emaranharam em minha cabeça quando após o delírio vi no espelho, se afastando, o caçador. Pensei, nesse momento, ter sido preenchido pela loucura já que acreditei em um caçador que buscara o que distanciara os homens e quando vi que encontrara a personalidade, sua caça mais feroz, percebi que o caçador era eu mesmo.

Bianca Garcia

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Violência gera violência

Faria menos sentido que gentileza gera gentileza? Fala-se tanto em gentileza, mas, como muitas coisas neste mundo, infelizmente, essa palavra foi banalizada. E sendo uma das mais ricas em sentido. Assim como imagens de Guevara tornando-se estampa de camisas, de bandeiras e de outros objetos, muros, camisas e canecas foram preenchidos por esse conjunto de palavras. Mas e o real sentido, onde se encontra? Não quero estampas para apenas preencher espaços em branco.
Acordei hoje e os jornais estampavam para todo lado fotos de Osama Bin Laden. Tinha link para acessar a cronologia de sua vida. Tinha link para tweets de pessoas famosas – e esses comentários me surpreenderam um pouco. Tinha, também, fotos das comemorações espalhadas pelo mundo. Tinha o pronunciamento oficial americano no que diz respeito à morte desse líder terrorista. E tinha outras notícias rodeando o mesmo assunto, o que têm se tornado rotineiro no jornalismo: a massificação de uma mesma notícia. Abrindo um médio parênteses, foram produzidas, durante semanas consecutivas, coisas relacionadas ao Casamento Real. Como seria o vestido de Kate Middleton, o que haveria de comida na festa... Depois da cerimônia foi falado do vestido, do beijo, do padre que deu estrelinha, dos convidados e suas roupas, da lua de mel... Agora, podemos esperar por muitas matérias publicadas em torno do ataque aos EUA em 11 de setembro, da AL-QAEDA e do próprio Osama e sua história.
Para os americanos e para uma boa parte do mundo, a morte de Osama Bin Laden é uma vitória. E um feito positivo para a história da humanidade. Mas não sei... comemorar uma morte não seria cruel demais? Mesmo que a crueldade tenha sido a própria pessoa. Não seria esse o ínicio para a ausência do fim de uma guerra declarada ou não? Pois se gentileza gera gentileza, violência gera violência. Vão pensar, então, que sou a favor de Bin Laden? Só penso que, ao contrário do que muitos andam dizendo por aí, sua morte não significa fim das ruindades humanas. Ele não era objeto de todo o caos em que foi transformado o mundo. As guerras internas, a fome, a destruição ambiental... Aliás, se fosse, seria o fim de tudo imediatamente. E isso, sabemos todos, que não acontecerá.

Bianca Garcia