segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Talvez, um receio bobo

Apesar de achar que a mudança é o sentido do giro da vida, tenho a absoluta certeza que a novidade nos traz medo. Não a novidade de fato, mas a simples mudança que a novidade pode nos proporcionar. Sendo assim, não é fácil aceitar que em menos de uma semana, o último número que marca o ano será alterado. Subirá um algarismo e será, portanto, o ano de 2011.
Esse temor talvez seja um receio bobo, mas sei que é presente em muitos pensamentos. Não acho estranho – até normal, pronunciado por tanta gente. O novo assusta, mas é um tanto paradoxal.
Depois de tantas coisas estranhas que aconteceram neste ano, só me resta um desejo eterno-mundial: a paz. Paz na vida, nas casas, nos corações, nas cidades e, por conseguinte, nos países. Uma palavra tão pequenininha com um poder tão grande e absoluto.
Enfim, que venha um novo ano!

Bianca Garcia

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Heróis de suas próprias vidas em uma “cidade partida”

Cidade Partida. Utilizo o termo de Zuenir Ventura, mas com uma segunda interpretação: a segregação socioespacial presente nesta cidade. É assim, bem claramente, que os cariocas observam (ou deveriam observar) a divisão da cidade do Rio.
Assim como nas novelas eles mostram a divisão social e, por conseguinte, dois lados da cidade: o lado rico e o lado pobre, nós – população carioca – vivenciamos isso no nosso dia a dia e, então, tiramos de letra essa visualização. Tá, nós sabemos que as novelas são produzidas de acordo com a realidade, porém, essa realidade imitada é bem mais fácil sempre. As cenas parecem se repetir mesmo sendo em novelas diferentes, e as histórias são sempre no mesmo tom. O lado do bem luta para ser feliz e no final o é; o lado do mal vence ao longo da novela fazendo as pessoas de bem sofrerem, e, no final, ou mudam de lado ou são punidos de alguma forma. Seria assim na nossa realidade? Se não, assim como a divisão de pessoas boas e pessoas más, a realidade social não é bem relatada.
A marginalização de bairros mais afastados, onde, de fato, ninguém pode negar que o poder público é ausente, é um dos principais problemas da nossa cidade maravilhosa (é maravilhosa mesmo no que diz respeito aos nossos olhos, ou melhor, ao que vemos através deles: as belas paisagens que preenchem tantos cartões postais). Afinal, a presença desse poder se encontra na zona rica da cidade, pois é nela que o alto escalão se encontra, inclusive, o alto escalão do poderio público. Pois bem, junto com os ‘endinheirados’ estão as melhores ruas – refiro-me a infraestrutra, ou seja, as mais bem asfaltadas para, claro, não danificar os carros de milhões de reais, a facilidade no transporte, os melhores ensinos (tanto dos colégios quanto das universidades). Através desses fatos, os problemas da nossa cidade não são probleminhas separados, são probleminhas que se unem, pois estão diretamente ligados, e se transformam em um problemão, e crônico!
Sendo assim, a população com menor poder aquisitivo e que mora em bairros distantes da região comercial sofre com toda essa ausência de poder. A péssima qualidade do transporte, a falta de opção do mesmo, a péssima qualidade das ruas e estradas e, por fim, os longos trânsitos são sua consequência. Sem contar que toda essa dificuldade é marcada ainda pelo movimento pendular do indivíduo que a enfrenta – e são muitos.  Isso quer dizer que esses trabalhadores acordam muito cedo, pegam seus respectivos transportes que transbordam de tanta gente, vão para seus respectivos trabalhos longe de casa e chegam à noite em suas respectivas residências cansados e exaustos de uma longa batalha. Logo, passam o dia fora de casa e quando finalmente chegam é para dormir, pois já é tarde e de madrugada voltam a se levantar e repetir o dia anterior. Há, dependendo do lugar onde moram e de onde trabalham, outra alternativa: o trem. Nele, há super lotação nos horários de pico, até então não perdeu para o ônibus, mas ganha por não ter trânsito a enfrentar. Porém, esse meio de transporte não é tão abrangente quanto ao primeiro. Contudo, essas pessoas ainda são marginalizadas por mitos que criam sobre essas regiões. Pessoas que não a conhecem consideram-na feia, irregular e extremamente perigosa.
A bola de neve já está formada e a situação difícil de ser contornada (espero não perder nunca a esperança, como muitos já perderam, em ver tais melhorias) se torna cada vez mais complicada, uma vez que a dificuldade que os moradores da zona oeste enfrentam não são enfrentadas pelos que nos representam, não os afetam e por não afetar nem a si nem a sua família, pois seus filhos estudam nos melhores colégios, depois são esses que sentam nas cadeiras das melhores universidades e depois são eles que possuirão os melhores empregos, não sai de suas bocas como um problema que tentam contornar, mas que, verdadeiramente, sabemos que não sai da teoria. No final das contas esse dinheirão será sempre concentrado. E ainda dizem serem as mesmas oportunidades para todos.
(Não colocarei agora em questão um outro problema: a saúde pública e privada. Pois essa está em decadência em toda a região e, se não serei muito ousada, digo-lhe que em todo o Brasil. Então, outro longo texto me renderia.)
Fico, portanto, com a graça da nossa cidade partida, uma cidade linda e bastante desigual, mas diferentemente do que os paulistas dizem, com pessoas muito trabalhadoras e guerreiras. Afinal, "os heróis são os guerreiros da vida” como muito bem disse Marcelo Falcão e, por isso, esses cariocas são heróis. Heróis de suas próprias vidas!


Bianca Garcia

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Nossa querida sociedade moderna

Na nossa ilustre sociedade líquida moderna - como Zygmunt Bauman muito bem a denomina, os bens têm importância, além de mercantil, de status. É nada mais nada menos isso que a publicidade vende: status. Ou se não vende propriamente dito, vende alusão à ele. Da mesma forma como as roupas têm de ser trocadas dos respectivos armários devido à alternância das estações e, por conseguinte, das novas modas e os carros ou meios tecnológicos tornam-se obsoletos, os relacionamentos humanos devem ter seus laços frouxos para que possam ser cortados, sem grande dificuldade, e remendado com outros. Com base nesse fato que correlaciono os produtos de consumo com o amor.
O conhecimento do amor como uma longa conquista, como algo duradouro e, por fim, com grande intensidade, como nos contos de fadas “felizes para sempre” está se esvaindo; em seu lugar, tende-se a ver a rapidez com que tudo se inicia, os impactos e, consequentemente, a curta duração dos relacionamentos. É algo como um desaprendizado desse sentimento. Seria por medo de suas consequências? Ou mesmo pelos diversos estímulos? O fato é que estamos conectados ao mundo inteiro, mas contato real com quase ninguém. O imaginário multilocalizado nos permite acesso a várias pessoas simultaneamente e, cada vez mais, as redes sociais, contribuem para esse esvaziamento que estamos vivenciando. Através delas, os romances tornam-se ainda mais virtuais e muitas das vezes não passam da tela do computador. Essas novas relações tornaram-se, portanto, mais pontuais, ou seja, atomizadas. E a desagregação desses grupos tornando o ser humano em "finas partículas sólidas" virtualizam até as relações pessoais diretas como quando encontramos um amigo, ao final da conversa dizemos: “tchau, beijos” ou “tchau, abraço”. Mesmo pessoalmente, eles não se beijam ou se abraçam de fato.
O mundo moderno exige instantaneidade e, com isso, seus habitantes não suportam as coisas duráveis e sólidas. Talvez seja essa a explicação do cuidado com elas para que não se tornem “caixas de aço” e, sim, de papel, a qual se pode, facilmente, pôr ao lado. Hoje, apaixonar-se é desapaixonar-se, visto que com a mesma rapidez com que dizem ter se apaixonado, dizem não estar preparados para uma vida a dois e que estão aproveitando e curtindo novas experiências, ainda completam dizendo a importância da pessoa naquele momento e que ela não tem culpa de nada, é somente uma decisão e uma fase da própria que põe o fim. Algo bastante traumatizante para quem ouve, torna-se um ‘ponta pé’ para a mudança no laço com outro ser humano e, assim, vemos, portanto, o início de uma corrente. Os óbvios riscos que correm os apaixonados e os famosos frios na barriga causados por esse sentimento tornaram-se monstros na visão desses líquidos cidadãos.
Percebo, ainda, "que ao mesmo tempo em que os indivíduos de nossa sociedade moderna desejam manter frouxos os laços humanos, desejam apertá-los. E daí surge o grande conflito estimulado pela insegurança". Então, a pergunta fundamental é: o que é necessário para preencher as páginas da vida?
As pessoas, hoje, adotam um modelo de vida onde há necessidade de um guia, de um palpitador, de um guru, seja lá o que for, ordenando suas ações. A leitura de revistas que palpitam no seu dia a dia, a realização de testes que vêm nelas – “Loiro ou moreno. Qual combina mais comigo?”, “Romântica ou ousada: quem eu sou?” e horóscopos lhes explicando os momentos de suas vidas e a hora adequada para a realização de certas tarefas são, nada mais nada menos, a certeza da insegurança presente na atual sociedade. Obviamente não é todo mundo que lê esse tipo de coisa, muito menos que acredita, mas é fato que essas revistas esvaziam diversas prateleiras de bancas e que aquele horóscopo bem curtinho do jornal é lido, às vezes, até por quem não crê nessa filosofia.

Bianca Garcia